A ORIGEM E HISTÓRIA DAS PARALIMPÍADAS
Há pelo menos
100 anos, o esporte tem disputas entre atletas com algum tipo de
deficiência física. Em 1888, Berlim, na Alemanha, já contava com clubes
que promoviam a participação de surdos nos esportes. Mas foi somente
depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que o esporte paralímpicos
ganhou força. E a história das Paralimpíadas está diretamente ligada a
Ludwig Guttmann, um alemão de origem judia.
Guttmann era neurologista e, em 1939,
saiu da Alemanha nazista e se estabeleceu com sua família na Inglaterra,
trabalhando na Universidade de Oxford. Em 1943, o governo britânico o
colocou para chefiar o Centro Nacional de Traumatismos, em Stoke
Mandeville, como parte de um plano de reabilitação de soldados que
serviram na Segunda Guerra Mundial. Conhecida como Enfermaria X (Ward X,
em inglês) e dotada de 26 leitos para mutilados de guerra e pacientes
paralíticos, a unidade dirigida por Guttmann iria se tornar o Centro
Nacional de Lesões da Coluna, no Hospital de Stoke Mandeville.
Como antes da Segunda Guerra o
deficientes eram tidos como vidas de curta duração e de má qualidade,
não haviam grandes esforços para reabilitar deficientes físicos. Para
mudar isso, Guttmann uniu trabalho e esporte em sua filosofia de
tratamento de seus pacientes, usando basquetebol, tiro com arco, dardos e
bilhar no tratamento. A recuperação de veteranos de guerra motivou cada
vez mais a adaptação de esportes e sua prática.
Com o tempo, o método de Guttmann obteve
sucesso e isso o motivou a promover, em 28 de julho de 1948, o primeiro
evento esportivo exclusivo para portadores de deficiência, com a
participação de dois grupos de arqueiros paraplégicos e um jogo de
basquete em cadeira de rodas. Era o mesmo dia em que começavam os Jogos
Olímpicos de Londres, a apenas 56 km de Stoke Mandeville. O evento
tornou-se anual e em 52, passou a ser internacional, recebendo atletas
holandeses, sendo conhecido como Jogos Internacionais de Stoke
Mandeville. Estava pronto o embrião das Paralimpíadas.
Em 1960, Roma recebeu a nona edição dos
jogos. A cidade italiana recebia no mesmo ano os Jogos Olímpicos e
graças aos esforços de Guttmann, as duas competições se reuniam. Assim,
400 atletas de 23 países competiram em provas exclusivas para usuários
de cadeira de rodas no tênis de mesa, tiro com arco, basquete, natação,
esgrima e atletismo. A competição também ocorreu em Tóquio, 1964,
novamente na mesma sede dos Jogos Olímpicos. O curioso é que, nessas
duas edições, o nome oficial da competição era Jogos Internacionais de
Stoke Mandeville. Entretanto, já era comum — principalmente para a
imprensa — o uso do nome “Paralimpíadas” para designar o evento.
Depois das duas primeiras edições
simultâneas, os jogos de 68 e 72 foram em cidades diferentes. Problemas
de acessibilidade aos locais de competição – ainda não havia tanto
empenho do COI em preparar uma organização adequada para as competições
paralímpicas – tiraram os jogos da Cidade do México e Munique. É bem
verdade que no caso mexicano, o fator financeiro também pesou. Em todo
caso, as competições de 68 aconteceram em Tel Aviv, Israel, e as de 72
foram em Heidelberg, alternativa alemã para sediar os Jogos.
Esse modelo de realizar a competição
paralímpica em outra cidade, porém no mesmo país, também foi adotado em
76, quando Toronto foi escolhida, enquanto Montreal sediava as
Olimpíadas. Essa edição foi marcada pelo aumento no número de atletas e
de novas categorias. Pela primeira vez foram realizados eventos para
deficientes visuais, amputados, pessoas com lesão na medula espinhal,
entre outros, totalizando 1600 atletas de quarenta países. O ano de 1976
também marcou a realização dos primeiros Jogos Paralímpicos de Inverno,
em Örnsköldsvik, Suécia.
A era moderna dos Jogos Paralímpicos
veio em 1988, quando a organização dos Jogos passou a ser feita de forma
conjunta com o comitê que organizava os Jogos Olímpicos. Os Jogos de
Seul foram um marco, com o programa sendo expandido para dezessete
esportes, que passaram a ter um sistema de classificação por tipo e grau
de deficiência. Desde a Olimpíada de Seul-1988, na Coreia do Sul, e da
Olimpíada de Inverno em Albertville-1992, na França, os Jogos
Paralímpicos são disputados nas mesmas cidades e locais de competição
dos Jogos Olímpicos, em acordo com os respectivos Comitês
Internacionais.
Um ano após os Jogos de Seul o Comitê
Paralímpico Internacional foi fundado, reunindo 167 países. Sua
relevância cresceu ao ponto de, em 2000, o IPC e o COI assinarem um
acordo de cooperação, segundo a qual a eleição da cidade-sede dos Jogos
Olímpicos passaria a incorporar exigências relativas aos Jogos
Paralímpicos. Era um nível nunca antes alcançado pelo esporte
paralímpico.
E os Jogos desde então são cada vez mais
bem organizados e os atletas evoluem para além dos limites antes
intransponíveis por suas limitações físicas.Com o passar dos anos, o
esporte paralímpico ganhou força e representatividade e talvez seja uma
das mais fortes personificações do espírito olímpico.