LÚPUS ERITEMATOSO
Apesar de muitos homens serem afetados pelo Lúpus, ele
costuma ocorrer de 10 a 15 vezes mais nas mulheres adultas do que nos homens
adultos. Mesmo entre as mulheres, acredita-se que aquelas de origem africana,
indígena ou asiática desenvolvam a doença com mais frequência do que mulheres
brancas. Possivelmente os fatores hormonais seriam responsáveis pela maior
incidência do Lúpus entre as mulheres. Isso pode ser suspeitado tendo em vista
o aumento dos sintomas que ocorre antes do período menstrual e durante a
gravidez. Particularmente o estrogênio estaria relacionado à doença.
Quanto à idade, o Lúpus pode aparecer em qualquer faixa
etária e os sintomas serão os mesmos nos homens e mulheres. O Lúpus Eritematoso
Sistêmico ou, mais simplesmente Lúpus, é uma doença crônica, autoimune, que
causa inflamações em várias partes do corpo, especialmente na pele, juntas,
sangue e rins.
Vejamos como podem
ser entendidas as chamadas Doenças Autoimunes:
No estado normal nosso sistema imunológico produz proteínas
chamadas anticorpos cuja função é proteger o organismo das eventuais agressões,
sejam dos vírus, das bactérias, de células cancerígenas e quaisquer outros
corpos estranhos. Estes agentes agressores, capazes de determinar a produção
automática de anticorpos, são então chamados antígenos.
Índice de Dermatologia
Psicossomática
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Devido a uma desordem imunológica como o Lúpus (existem
muitas outras), o sistema imunológico defensivo perde sua habilidade de
diferenciar os corpos estranhos (antígenos) e suas próprias células e passa a
direcionar anticorpos contra o próprio organismo. Estes anticorpos dirigidos
anormalmente contra o próprio organismo são chamados de auto-anticorpos.
Os auto-anticorpos acabam reagindo com elementos do próprio
organismo formando complexos imunológicos. São esses tais complexos
imunológicos que acabam, crescendo em diversos tecidos, dependendo do tipo da
doença autoimune, causando todo tipo de lesões. Quando esses tecidos são, por
exemplo, os rins, teremos as glomerulonefrites agudas autoimunes, assim como
podemos ter as artrites da febre reumática, ou a inflamação da tireoidite e
assim por diante. Assim sendo, o Lúpus é um dos tipos das chamadas doenças autoimunes.
Tipos de Lúpus
Existem 3 tipos de Lúpus: o Lúpus Discóide, o Lúpus
Sistêmico, e o Lúpus Induzido por Drogas.
O Lúpus Discóide
é sempre limitado à pele. É identificado por inflamações cutâneas que aparecem
na face, nuca e couro cabeludo. Aproximadamente 10% das pessoas Lúpus Discóide
pode evoluir para o Lúpus Sistêmico, o qual pode afetar quase todos os órgãos
ou sistemas do corpo.
O Lúpus Sistêmico costuma ser mais grave que o Lúpus
Discóide e, como o nome diz (sistêmico=geral), pode afetar quase todos os
órgãos e sistemas. Em algumas pessoas predominam lesões apenas na pele e nas
juntas, em outras podem predominar as juntas, rins, pulmões, sangue, em outras
ainda, outros órgãos e tecidos podem ser afetados. Enfim, cada caso de Lúpus é
diferente do outro.
O Lúpus Induzido por Drogas, também como o nome diz, ocorre
como consequência do uso de certas drogas ou medicamentos. Os sintomas são muito
parecidos com o Lúpus Sistêmico. Algumas drogas já foram detectadas como
facilitadoras do desenvolvimento de Lúpus. É o caso, por exemplo, da
hidralazina, medicamento para tratamento da hipertensão, ou da procainamida,
usada para tratamento de algumas arritmias cardíacas.
Entretanto, quando ocorre a doença autoimune devido ao uso
dessas substâncias, isso depende mais da pessoa que da própria substância, ou
seja, não são todas as pessoas que tomam esses produtos que desenvolverão o
Lúpus, mas apenas uma pequena porcentagem delas. Isso significa que a imunidade
dessas pessoas vulneráveis à doença autoimune é que é o problema, propriamente
dito.
Causas do Lúpus não são totalmente conhecidas, mas
sabe-se que fatores ambientais e genéticos estão envolvidos. Enquanto os
cientistas acreditam haver uma predisposição genética para a doença, é sabido
que fatores ambientais também têm importante papel para o aparecimento do
Lúpus. Alguns dos fatores ambientais que podem despertar a doença são:
infecções, medicamentos, exposição a raios ultravioletas e o estresse. É por
causa desse último fator associado à causa, o estresse, que o Lúpus pertence
também ao capítulo das doenças psicossomáticas.
Em relação ao componente genético do Lúpus, podemos dizer
que embora a doença seja conhecida por ocorrer dentro de famílias, não houve
ainda a identificação de um gene ou genes responsáveis por ela. É em torno de
10 a 12% o número de pacientes que têm parentes próximos com a doença, e apenas
5% de filhos de pacientes desenvolverão o Lúpus.
Sintomas e
Diagnóstico do Lúpus
Apesar de o Lúpus poder afetar qualquer área do organismo, a
maioria dos pacientes apresenta os sintomas em apenas alguns órgãos. Devido
esse aspecto geral (sistêmico) do Lúpus, ele pode se assemelhar a muitas outras
doenças, tornando seu diagnóstico difícil. O diagnóstico é feito, muitas vezes, por um cuidadoso exame
clínico, uma detalhada entrevista e através de exames de laboratórios.
Atualmente não há um exame específico para determinar se a pessoa tem Lúpus ou
não.
Para o Lúpus Discóide o diagnosticado pode ser facilitado
por biópsia do tecido atingido pela inflamação. Nesse caso, a biópsia vai mostrar
anormalidades que não são encontradas na pele normal. Geralmente esse tipo de
Lúpus não atinge órgãos internos do corpo. Nesse caso, o teste ANA, um teste sanguíneo
usado para detectar Lúpus Sistêmico, pode dar negativo. O suspeito de Lúpus deve apresentar pelo menos quatro dos
sintomas abaixo, mesmo que esses sintomas possam não ocorrem todos
necessariamente ao mesmo tempo.
Critérios Usados Para
Diagnosticar Lúpus
Erupções cutâneas
Erupções no malar (maçãs do rosto)
Erupção discóide (em forma de disco)
Manchas vermelhas protuberantes
Fotossensibilidade
Reação à luz do sol com erupções cutâneas
Ulcerações Orais
Feridas no nariz e na boca, normalmente sem nenhuma dor
Artrite
Artrite não erosiva, envolvendo duas ou mais junta periférica
(artrite que não destrói os ossos próximos às juntas)
Serenterite
Pleurite ou pericardite
Muitas vezes os rins são comprometidos no Lúpus, havendo
excesso de proteína na urina e/ou aumento de células, elementos anormais
derivados de hemácias e/ou leucócitos e/ou de células de tubos renais. Com
certa frequência podem surgir sintomas neuropsiquiátricos, tais como convulsões
e psicose. No sangue o Lúpus pode provocar anemia hemolítica, diminuição de
leucócitos abaixo de 4000 células por milímetro cúbico (leucopenia).
O primeiro teste de laboratório idealizado para detectar o
Lúpus foi o teste celular LE (lupus erythematosus). Quando o teste é repetido
várias vezes, costuma ser positivo em 90% das pessoas portadoras de Lúpus
Sistêmico. Entretanto, nem todas as pessoas com o teste celular LE positivo
estão com Lúpus. Esse teste pode dar positivo em até 20% das pessoas com
artrite reumática, em outras condições reumáticas, em pacientes com problemas
no fígado e em pessoas usam drogas como procainamide, hydralazine e outras.
Outro teste, o chamado Teste de Fator Ante Nuclear (ANA ou
FANA) é mais específico para o Lúpus do que o teste celular LE. Este teste dá
positivo em virtualmente todas as pessoas com Lúpus Sistêmico e é o melhor
exame disponível atualmente. É tão eficaz para Lúpus que se o resultado for
negativo, provavelmente o paciente não tem a doença.
Devido a essas dificuldades clínicas e laboratoriais, pode
levar um bom tempo até que uma pessoa seja definitivamente diagnosticada com
Lúpus. Durante esse período, o paciente pode se sentir frustrado pela aparente
incapacidade dos médicos em confirmar um diagnóstico. Antes que o diagnóstico
seja confirmado, algumas queixas principais do paciente serão de ordem
emocional.
O site Lúpus On-Line
traz uma relação didática sobre as possíveis causas do Lúpus:
"Imunidade”
O sistema imune é regulado por uma combinação de células
brancas do sangue e por algumas substâncias solúveis produzidas por elas.
Existem basicamente 3 tipos destas células envolvidas no controle da resposta
imune: linfócito B (produtores de anticorpos), linfócito T e o macrófago
(reguladores da produção). Os linfócitos T, que estimulam a produção de
anticorpos são chamados T auxiliadores, e os que reprimem a produção são
chamados de T supressores.
Normalmente, o sistema imune tolera seu próprio organismo,
não produzindo excessivamente anticorpos contra seu corpo. O que diferencia o paciente de LES é a enorme
quantidade de auto-anticorpos dirigida contra seus constituintes próprios.
Alguns estudos mostram que nos pacientes de Lúpus, ocorre uma diminuição da
atuação do linfócito T supressor, ou mesmo uma intensa estimulação de produção
de linfócito T auxiliadores.
Genética
Alguns cientistas acreditam em uma predisposição genética à
doença, mas ainda não se conhece os genes causadores. Apenas 10% dos pacientes
de LES tem parentes próximos que desenvolveram a doença. E as estatísticas
mostram que apenas 5% de crianças de pais que tem Lúpus desenvolvem a doença.
Hormônio
90% dos pacientes de Lúpus são mulheres, entre 15 e 40 anos
de idade. Por isso, o Lúpus parece ter alguma associação com o estrógeno, um
hormônio produzido pelas mulheres em seus anos reprodutivos.
Stress
O stress é comprovadamente um disparador do LES. Os
cientistas pesquisam a possibilidade da adrenalina ou cortisona influenciarem o
desenvolvimento da doença.
Luz Ultravioleta
Cerca de 30 a 40% dos pacientes de Lúpus apresentam
sensibilidade ao componente ultravioleta vindo da luz solar ou artificial, em
função de:
- alteração no DNA estimulando a produção anormal de
anticorpos contra ele;
- células da pele (queratinócitos) quando expostas à luz
ultravioleta estimulam os linfócitos a produzirem anticorpos;
- a luz UV dificulta a retirada dos imunocomplexos da
circulação, que podem se depositar em alguns tecidos provocando inflamação.
Vírus
É possível que linfócitos B sejam infectados por vírus e
provoquem a produção de anticorpos em pacientes susceptíveis.
Substâncias Químicas
Alguns remédios como procainamida (para distúrbios do
coração), hidrazida (para tuberculose), difenilidantoína (para epilepsia),
hidralazina (para pressão alta), podem produzir um conjunto de sintomas
semelhante ao LES em pacientes predispostos. Descobriu-se que os pacientes
demoram mais para metabolizar essas drogas, bastando a suspensão do uso para a
regressão dos sintomas. Veja tudo
O site Lúpus On-Line
traz uma relação didática sobre o Condicionamento Físico
“A Disciplina de Reumatologia da Universidade Federal de São
Paulo está fazendo uma pesquisa sobre o efeito do condicionamento físico
através de um programa supervisionado em pacientes com Lúpus Eritematoso
Sistêmico”. Pacientes com a doença controlada, que não tenham comprometimento
articular que impeça fazer caminhada e não apresentem insuficiência renal,
cardíaca ou pulmonar poderão fazer parte do estudo.
Primeiramente será feito avaliação do condicionamento físico
e depois um programa de treinamento cardiovascular supervisionado. O objetivo
do estudo e verificar se programas de exercícios supervisionados podem melhorar
o condicionamento físico dos pacientes com lúpus e melhorar sua qualidade de
vida. “Pacientes da cidade de São Paulo que disponham de uma hora por manhã,
três vezes por semana, para fazer o treinamento, poderão ser inseridos na
pesquisa.”
O Lúpus e a Depressão
Há uma percepção clínica geral de que a depressão ocorre com
frequência no curso do Lúpus. Se essa depressão pode ser normalmente esperada
devido ao estresse e aos sacrifícios impostos pela doença ou se, ao contrário,
é ela que agrava e desencadeia os sintomas e crises agudas é uma questão de
difícil resposta. As pessoas com Lúpus e deprimidas normalmente são alertadas
que esse estado emocional pode ser induzido pelo próprio Lúpus, pelos
medicamentos usados no tratamento e por um incontável número de fatores
vivenciais com alguma relação com essa doença crônica.
Mas, a condição clínica de Depressão não deve ser confundida
com as pequenas alterações diárias de humor, a que todos estamos sujeitos no
enfrentamento das dificuldades cotidianas. Ao nos sentirmos felizes ou
angustiados ou invejosos ou irritados, todos estamos "deprimidos" de
vez em quando. Por outro lado, Transtorno Depressivo clinicamente identificado
é um prolongado e desagradável estado de incapacidade com intranquilidade,
ansiedade, irritabilidade, sentimentos de culpa ou remorso, baixa autoestima,
incapacidade de concentração, memória fraca, indecisão, falta de interesse nas
coisas que normalmente gostava, fadiga e uma variedade de sintomas físicos tais
como dores de cabeça, palpitações, diminuição do apetite e/ou performance
sexual, outras dores no corpo, indigestão, constipação ou diarreia etc..
Alguns estudos mostram que 15% das pessoas com doenças
crônicas em geral sofrem de Transtorno Depressivo (Howard S. Shapiro); outros
autores aumentam esse número para quase 60%. De qualquer forma, é bom ter em
mente que, embora o Transtorno Depressivo seja muito mais comum em portadores
de doenças crônicas, como por exemplo, o Lúpus, do que no resto da população,
nem todos esses doentes vão sofrer de Depressão obrigatoriamente. No Lúpus
Eritematoso Sistêmico os sintomas da depressão, tais como a apatia, letargia,
perda de energia ou interesse, insônia, aumento nas dores, redução do apetite e
desempenho sexual, etc., podem estar sendo atribuídos à própria doença e, com
isso, minimizando a importância clínica desse estado afetivo passível de
tratamento.
Por causa disso ou, devido à insensibilidade do clínico, a
maioria dos casos de depressão no paciente passa despercebida e sem tratamento,
muitas vezes até que a doença atinja estágios bastante avançados, quando a
gravidade do problema se torna insuportável para o paciente, correndo risco de
levar ao suicídio. Na realidade, muitos estudos indicam que entre 30 e 50% dos
casos de depressão não são diagnosticados pelos procedimentos médicos
corriqueiros.
Muitos pacientes com Lúpus se recusam a admitir que estejam
em um estado depressivo e negam com veemência que estão se sentindo infelizes,
intimidados ou deprimidos. Eles pretendem transmitir uma imagem de coragem,
determinação ou coisa assim. Nesses casos os pacientes apresentam a depressão
"disfarçada" ou atípica. Eles resistem ao reconhecimento pessoal do
estresse emocional e da depressão clássica substituindo os sentimentos típicos
por vários outros sintomas físicos. Sim, porque sintomas físicos sempre têm um
elogioso aval da sociedade.
Contribuindo ainda para não proceder a um tratamento
adequado da depressão no paciente com Lúpus, está a noção distorcida de que as
pessoas com um a doença crônica "têm razões para se sentirem deprimidos
porque estão doentes", como se isso justificasse o não tratamento e o
descaso diante do fato. Essa crença interfere no diagnóstico precoce, no
tratamento precoce, e no alívio igualmente precoce da depressão.
Entre os vários fatores que contribuem para a depressão numa
doença como o Lúpus estão os abalos emocionais causados pelo estresse e tensão
associados à lida com a doença, os sacrifícios e esforços necessários aos
ajustes que o paciente deve fazer na sua vida e os vários medicamentos usados
no tratamento do Lúpus, como por exemplo, os corticosteroides.
Também é importante o envolvimento de certos órgãos no
Lúpus, como é o caso do cérebro, coração ou rins, que também pode levar a um
estado depressivo. Existem ainda muitos outros fatores ainda pouco explicados
que podem estar relacionados à depressão do paciente com Lúpus.
Ballone GJ - Lúpus Eritematoso e Psicossomática - in.
PsiqWeb, Internet, disponível em
revisto em
2003
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